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Projeto de Extensão instrui mais de mil pessoas sobre Redução de Danos na PB
O projeto “Redução de danos como estratégia de atenção e cuidado integral em saúde: políticas, vivências, intervenções e qualificação” está vinculado ao Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), órgão suplementar do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFPB, e encerrou as atividades do ano em evento no começo deste mês. A Aula Aberta “O Cuidado ao Usuário de Drogas no Território: a prática da redução de danos”, seguida de mostra, ocorreu em 4 de dezembro, das 14h às 17h, no Auditório 412 do CCHLA, no campus I da universidade.
A abertura do evento foi feita pelo grupo musical Batucaps, do Centro de Atenção Psicossocial sobre Álcool e Outras Drogas (Caps AD). O tema do encontro foi abordado, em mesa redonda, pelos especialistas em redução de danos: o consultor Domiciano Siqueira (MG), o filósofo Marco Manso (BA) e o médico e professor da UFPB Luciano Bezerra. Depois da aula aberta, houve mostra de práticas até as 21h30, com a participação do Consultório na Rua, Batucaps do Caps AD, Projeto Chega Junto, Projeto Atitude (PE) e do próprio Projeto de Extensão de Redução de Danos da UFPB.
Aperfeiçoamento
Contemplado no Programa de Bolsas de Extensão (Probex/UFPB) e coordenado pelos professores do Departamento de Enfermagem Clínica da instituição Ana Suerda Leal e José da Paz Alvarenga, o curso de aperfeiçoamento em Politica Nacional de Redução de Danos teve início em 7 de agosto e foi concluído em 11 de dezembro, com certificação do NESC. Capacitou 38 profissionais que atuam na Rede de Atenção Psicossocial, na Atenção Básica em Saúde, no Núcleo de Apoio à Saúde da Família e no Sistema Único da Assistência Social (SUAS) dos municípios de João Pessoa, Bayeux, Conde Cruz do Espírito Santo e Santa Rita.
Ao longo dos quatro meses de aulas, foi discutida, em dez módulos, a história da política nacional de redução de danos; os modelos de cuidado e de prevenção, sobretudo de doenças infectocontagiosas; políticas públicas; projetos terapêuticos, terapias substitutivas e utilização de insumos; educação em saúde, atenção básica e abordagens aos usuários de drogas, entre outros temas.
Segundo o residente em saúde mental Marcos Luis Deparis, a iniciativa não objetivou somente a qualificação aos profissionais da saúde e da assistência social. Contemplou também uma dimensão prática, no intuito de possibilitar um olhar mais sensível sobre usuários de drogas, orientada pela perspectiva de que o uso de substâncias psicoativas é um direito humano. “Nesse sentido, o paradigma da redução de danos, enquanto prática, política e vivência, auxilia na reformulação deste olhar”, garante Deparis, que atuou como supervisor e instrutor do curso.
Estiveram envolvidos na organização da capacitação, docentes da universidade, nove residentes em saúde mental do NESC, uma bolsista do curso de Artes Cênicas e uma aluna do curso de Terapia Ocupacional, ambas estudantes da UFPB, e dois graduandos em Psicologia da Faculdade Maurício de Nassau.
Intervenções e aulas abertas
Neste primeiro ano de execução do projeto, foram realizadas intervenções no bairro Mandacaru e na comunidade São Rafael do bairro Castelo Branco, em João Pessoa; na comunidade São Geraldo, em Bayeux e na comunidade de Nossa Senhora das Neves, no município do Conde. Ao todo, cerca de 600 pessoas foram orientadas, de modo lúdico, acerca da redução de danos sociais e à saúde decorrentes do uso de drogas.
Nessas ações, direcionadas majoritariamente sob a perspectiva da arte e da cultura, um dos principais parceiros foi o Movimento Hip Hop de João Pessoa, que viabilizou apresentações musicais, de dança e produção de desenhos com enfoque na promoção da saúde e na prevenção. Além disso, nos eventos foram ofertados serviços, como aurículoterapia e oficinas de teatro, de dança e de música.
Neste ano, também foram promovidas quatro aulas abertas para a comunidade acadêmica da UFPB. Mais de 400 ouvintes tiveram a chance de ampliar seus conhecimentos sobre a temática, por meio de palestras e de debates.
Redução de Danos no Brasil e em João Pessoa
Para Marcos Luis Deparis, o Brasil apresenta retrocessos na esfera da redução de danos, depois de uma ascendente consolidação que a tornou uma política pública com propósito de tratar usuários de modo plural e humanizado. “Em todos os setores da sociedade brasileira, é perceptível o retorno do discurso moral, com viés fascista e arbitrário, em relação à questão das drogas e a outras problemáticas que envolvem, por exemplo, a população negra, LGBT e em situação de rua”, esclarece.
Deparis, que também é psicólogo, observa, da mesma maneira, o retorno dos antigos manicômios. “Desta vez, estão travestidos de comunidades terapêuticas. Lá dentro, as práticas não são pautadas pelo empoderamento e pela autonomia”, critica.
Em João Pessoa, conforme o especialista, o cenário da política da redução de danos é similar. Ele diz que, enquanto brancos e ricos não sofrem discriminação por serem usuários de drogas, há falta de empatia com negros, pobres e periféricos consumidores de drogas. Além disso, os serviços de saúde mental destinados a essa população, como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Pronto Atendimentos em Saúde Mental (PASM), estão extremamente debilitados. De acordo com Deparis, “a rede de atenção básica, como um todo, está precária. As estruturas físicas são insatisfatórias e os profissionais possuem vínculo fragilizado e são mal remunerados”.
Entretanto, ele destaca um avanço. “O Projeto Chega Junto, lançado neste ano pela Prefeitura de João Pessoa, passou a disponibilizar, com poucas exigências, abrigo e qualificação profissional para pessoas em situação de rua e usuários de drogas. Ou seja, não é imposta a abstinência como critério de participação”, conta.
Fonte: ACS | Pedro Paz