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Pesquisa da UFPB constata aumento de até 6ºC em regiões metropolitanas brasileiras em virtude de ilhas de calor urbanas
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) confirmaram, cientificamente, a percepção que moradores de grandes cidades brasileiras têm: está cada vez mais quente viver nelas. Temperaturas de até 6º C acima da média foram constatadas pela equipe em 21 regiões metropolitanas com mais de 1 milhão de habitantes de norte a sul do país, nos últimos 20 anos. E uma das causas disso é um fenômeno conhecido como ilha de calor urbana, que ocorre quando o calor, no tecido urbano, é mais alto do que o registrado nos seus arredores, devido às atividades humanas.
A pesquisa é fruto da dissertação ‘Análise dos padrões, fatores e tendências das ilhas de calor de superfície (SUHIS) no Brasil’, do aluno egresso do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental (PPGECAM) Eduardo Gonçalves Patriota. No mestrado, o estudante foi orientado pelo docente Victor Hugo Coelho e teve a cooperação dos professores Cristiano das Neves Almeida e Guillaume Francis Bertrand, todos do PPGECAM, programa vinculado ao Centro de Tecnologia (CT) da UFPB. A pesquisadora Cinthia Maria de Abreu Claudino também cooperou com o projeto. A dissertação foi transformada em um artigo científico que foi publicado no periódico Sustainable Cities and Society, da editora Elsevier.
O projeto de pesquisa contou com a colaboração da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba (FAPESQ-PB) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Os resultados do estudo mostraram que as ilhas de calor urbanas das regiões metropolitanas de Manaus (6,10ºC), São Paulo (5,09ºC) e Belém (4,34ºC), no período de 2003 a 2022, foram as que registraram os maiores aumentos absolutos em relação à média das temperaturas máximas em seus arredores. No conglomerado urbano de João Pessoa, capital da Paraíba, o aumento absoluto foi de 1,28ºC.
“Por exemplo, enquanto em São Paulo a temperatura de superfície [fluxo de calor dado em função da energia que chega e sai do corpo, grandeza importante para o entendimento das interações entre a superfície terrestre e a atmosfera] ao redor da área urbana estava em 40 graus, dentro da cidade esse valor era de 45 graus. Essa temperatura de superfície, ela pode ser utilizada também para aquecer o ar, então consequentemente a temperatura do ar da cidade de São Paulo, onde há essas ilhas de calor mais intensas, é maior também do que a temperatura do ar nas áreas ao redor da mancha urbana de São Paulo”, exemplifica o professor Victor Hugo Coelho.
Já os crescimentos médios em relação à média das temperaturas máximas nos arredores foram maiores, na Região Norte, na região metropolitana de Belém (1,02ºC acima da média entre 2003 e 2022); no Nordeste, em Recife (1ºC); no Sudeste, em Vitória (0,6ºC); no Sul, em Florianópolis (0,8ºC); e no Centro-Oeste, em Goiânia (0,8ºC).
A pesquisa constatou também que as expansões das áreas urbanas influenciaram mais a temperatura de superfície no período diurno, como esperado, mas os aumentos de temperatura em decorrência das ilhas de calor urbanas não ficaram restritos apenas a esta parte do dia, tendo sido registrados também durante o período noturno. Neste cenário, João Pessoa teve um crescimento médio de 0,8ºC no período diurno e 0,2ºC no período noturno.
Para realizar o estudo, o grupo não precisou nem sair da Paraíba. As análises que consubstanciaram a pesquisa foram feitas a partir de sensoriamento remoto, utilizando, principalmente, dados e imagens de temperatura e de outras grandezas coletadas pelos satélites ‘AQUA’ e ‘TERRA’, da NASA. Os pesquisadores também aplicaram testes de tendência e traçaram relações, por meio de análises estatísticas, de algumas variáveis com a temperatura da superfície.
“Esse foi o primeiro estudo, de acordo com a revisão bibliográfica realizada, que analisa a relação dessas ilhas de calor urbano com algumas variáveis, como a evapotranspiração real e o saldo de radiação à superfície, que são componentes importantes do balanço energético da superfície e que, consequentemente, possuem relação com a formação dessas ilhas de calor urbano”, conta Victor Hugo Coelho.
Ainda de acordo com o docente, outro diferencial da pesquisa desenvolvida na UFPB é a quantificação da intensidade das 21 ilhas de calor urbanas por um longo período (20 anos, entre os anos de 2003 a 2022), ao contrário das demais pesquisas presentes na literatura da área, que realizaram apenas análises mais pontuais e instantâneas.
Soluções
No estudo, os pesquisadores também apontam que aumentar a evapotranspiração real, processo natural que têm influência da vegetação, tem o potencial de atenuar a temperatura dessas regiões metropolitanas, sobretudo durante o dia. Além disso, a sombra fornecida por árvores e outras vegetações também pode ajudar a reduzir a temperatura do solo e das superfícies construídas, diminuindo o efeito da ilha de calor.
A integração de áreas arborizadas no planejamento urbano é, assim, um dos caminhos para ajudar na regulação do clima nesses ambientes urbanos, tornando essas regiões mais resilientes e habitáveis.
“As descobertas enfatizam a necessidade de práticas sustentáveis de uso da terra e infraestruturas verdes nas regiões urbanas para neutralizar os impactos adversos dessas ilhas de calor, podendo ser de grande importância para o gerenciamento dessas regiões”, conclui Victor Hugo Coelho.