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Mulheres na engenharia: os desafios de uma minoria na área
Nos últimos anos, a presença feminina em cursos universitários tem sido cada vez maior. Dados do Censo da Educação Superior (2019) mostram que as mulheres representam 55,74% do total de matrículas e 59,05% do total de concluintes no ensino universitário no Brasil. Na Paraíba, esses números estão bem próximos à realidade brasileira. Contudo, quando falamos dos cursos de engenharia, a quantidade de mulheres cai bastante.
Na UFPB, evidenciando essa estatística, a Prof.ª Halane Fernandes é a única docente mulher em atividade no Departamento de Engenharia Mecânica (DEM). O curso é o que possui a menor porcentagem de mulheres entre as engenharias na universidade, apenas 12,6% dos alunos ativos em 2020.2 eram mulheres.
Formada em Engenharia Civil, mas com Mestrado e Doutorado na área de Engenharia Mecânica, a docente explica que na sua graduação a discrepância entre homens e mulheres em sala de aula era muito grande, mas que atualmente o cenário está mudando. Na sua turma, por exemplo, se formaram apenas três mulheres, enquanto hoje elas ocupam 31,4% das vagas no curso de Engenharia Civil.
Um dos problemas que ainda afasta as mulheres dos cursos de engenharia é a falta de conhecimento sobre a profissão. A Prof.ª Halane explica que “tem gente que não sabe ainda o que é a engenharia mecânica, qual o campo [dela] e pensa logo no mecânico que está lá trocando o pneu do seu carro, então às vezes a menina não quer se sujar. E não precisa se sujar, precisa ter cabeça, precisa gostar de trabalhar com números, gostar da física, gostar da matemática, para enfrentar essa área promissora que é a engenharia mecânica”.
Como a única docente mulher no DEM há quase dez anos, a professora afirma que não gostaria de se acostumar com a situação e incentiva a participação de outras mulheres na área. Por isso, há três anos, ela coordena um projeto de extensão na UFPB, intitulado “Estímulo à participação e à formação de meninas e mulheres para a carreira de engenharia através do Aerojampa”, que tem o objetivo de despertar o interesse de jovens mulheres a ingressar nas carreiras de engenharia e de estimular as graduandas que já estão nestes cursos a persistirem, através do Aerojampa, evitando a evasão escolar e aumentando a representatividade da mulher no desenvolvimento tecnológico e científico do Brasil.
Além disso, a docente reconhece o seu papel na representatividade feminina na engenharia da UFPB, por isso procura estar sempre se atualizando, para não ser apontada como uma professora não capacitada apenas por ser uma mulher na engenharia. “Porque geralmente, quando você está dirigindo um carro e vê alguém ‘barbeirando’ o carro, ai diz, ‘só pode ser mulher’, e muitas vezes não é a mulher, é um homem que está lá mesmo e está fazendo a ‘barbeiragem’ [..], então eu não quero que façam isso com relação as aulas que eu ministro [...], essa fala não serve para mim”, afirma.
As estatísticas na UFPB
Em todo o estado da Paraíba, segundo os dados do Censo da Educação Superior, em 2019, as mulheres representam 55,05% do total de matrículas (72.989) e 58,58% do total de concluintes (INEP, 2020).
Apesar disso, quando falamos dos cursos de engenharia, esses números são bem diferentes. Na UFPB, o pior cenário ocorre no curso de engenharia mecânica, pois de todos os alunos ativos no período 2020.2, apenas 12,6% são mulheres, dos 15 egressos do período 2020.1 apenas uma era mulher, e dos 57 alunos que ingressaram no curso no período 2020.1 somente 7 eram mulheres. Em outros cursos de graduação em engenharia, a presença da mulher ocorre nas seguintes proporções: engenharia elétrica 22,2%, engenharia de produção mecânica 30,6%, engenharia civil 31,4%, engenharia de produção 31,6%, engenharia de materiais 33%, engenharia de energia renováveis 34,3%, engenharia ambiental 46,4%, engenharia de alimentos 49,0% e engenharia química 49,1% (Fonte: SIGAA, 2021).